25/03/2016 - PEDALADAS FISCAIS
Ao Tribunal de Contas da União
(TCU) compete analisar a contabilização anual das receitas e despesas do
governo federal. No ano de 2014, descobriu-se que a União tem usado a Caixa
Econômica Federal, o Banco do Brasil e o BNDES, para sacar dinheiro como
adiantamentos, para pagar despesas públicas, notadamente dos programas sociais,
tipo Bolsa Família. A Lei de Responsabilidade Fiscal proíbe que haja financiamentos
dos bancos federais à União, visto que muitos desvios de recursos poderiam ser
feitos. No caso dos adiantamentos são financiamentos disfarçados, o que ficou
denominado como “pedaladas” fiscais. Por isso mesmo, o TCU enviou relatório,
reprovando as contas governamentais, ao Congresso, a quem cabe aprovar ou não.
Em 2015, não se examinou o fato e será examinado em 2016 (lembre-se, contas de
2014), quando for colocado em pauta. Para a oposição isto se constitui em crime
de responsabilidade, que se reprovado se teria o impeachment da presidente
Dilma. O exame está em curso e tem sido demorado. O governo federal tanto
reconheceu o erro que o corrigiu, pagando cerca de R$50 bilhões do saldo
devedor, sendo a metade do déficit primário de 2015. Em face do retrato
formado, a contabilidade pública ficou ainda mais deteriorada. A questão é como
a criatividade esconde a verdadeira intenção da administração?
Em artigo na FSP, do dia 23,
passado, o colunista Alexandre Schwartsman, mostra mais uma tentativa de
criar-se nova pedalada, agora acerca da dívida pública. Intitulado “1 trilhão
de pedaladas”. Na interpretação do novo pacote de quatro medidas de política
fiscal, enviado ao Congresso, o Ministério da Fazenda sugere que os bancos
depositem dinheiro no Banco Central (BC) e recebam remunerações por tais
recursos. Referido dinheiro vem sendo aplicado em títulos da dívida pública, em
poder do BC, que tem uma carteira com R$1,226 trilhão, correspondente a 21,3%
do PIB. Segundo ele: “Proposta que troca títulos da dívida pública por
depósitos no BC pode ser outra pedalada a abalar a seriedade das contas
públicas”. Ora, ele descobriu isto
porque foi diretor do BC. Até então ninguém tinha atinado a isto antes. Assim,
a dívida pública que hoje corresponde a 62% do PIB retornaria aos próximos 40%
do PIB, levando aos analistas a “afirmarem” que, neste percentual, está bem
administrada, já que, em projetos, a capacidade pagamento é limitada até 60% da
amortização do crédito. Além do mais, seria um aval de boa administração, já
que a previsão é de que em 2018, a relação dívida pública/PIB esteja em 80% e a
relação cairia para menos de 60%.
Vai passar no Congresso Nacional?
Publicado antecipadamente.
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