02/12/2015 - DÉFICIT SUBMERSO
Não se tem um assunto econômico mais
comentado nos últimos meses do que o déficit público. Na verdade, dividido em
dois: déficit primário e déficit nominal. Este inclui aquele. Logo, o que se
fala primeiro é no déficit primário, exigência mínima da boa gestão das contas
públicas, para pagar parte dos juros da dívida global e rolar parte deles com o
principal. Assim, o déficit primário é a diferença entre as receitas e despesas
do governo central, durante um ano. O déficit nominal seria o total pagamento
dos juros, o que “nunca” tem sido feito, tornando a divida pública em dívida
“eterna”. Ocorre que, depois de 18 anos de superávit primário, em 2014, a
presidente Dilma incorreu em déficit primário de R$35 bilhões. Por que isto?
Por que não fez boa gestão das contas nacionais, deixando que os percentuais
dos gastos públicos superassem os incrementos do PIB. O déficit do governo
central se refere ao do Tesouro Nacional, ao do Banco Central e ao da
Previdência Social. No entanto, apresenta-se como saldo, mas, no seu peso,
acredita-se que cada vez mais está a Previdência Social, que, no ano passado,
alcançou R$90,6 bilhões. Poderá neste exercício ultrapassar R$100 bilhões. Já o
Banco Central apresentou em vários anos pequeno déficit ou superávit. Porém, em
2015, a escassez de dólar no mercado brasileiro, ocasionou forte valorização,
por volta de 60%, chegando o dólar comercial a bater R$4,15. Por força da
intervenção do Banco Central, este recuou para faixa de R$3,70 a R$3,90.
Entretanto, a manutenção do dólar abaixo de R$4,00 se deveu às operações de
“swap”, referentes à compra futura de um dólar para baixo de R$4,00, cujos
contratos levaram a prejuízos de R$100 bilhões. Este valor não está no
orçamento e explode nas contas públicas no acerto de final de ano das contas
centrais.
No início do ano o governo enviou
ao Congresso uma meta de superávit fiscal de mais de R$66,3 bilhões. Contudo, a
arrecadação recuou muito, tendo o Tribunal de Contas da União exigido que se honrem
os débitos das “pedaladas” fiscais com os bancos estatais e, agora, o déficit
“submerso”, que emergiu, da manutenção do câmbio abaixo de R$4,00, conforme
acima referido, fazendo com que governo federal propusesse nova meta ao Congresso,
do referido superávit para déficit primário para este ano de R$51,2 bilhões.
O que submerso, em resumo mesmo,
é o déficit nominal. Ao lidar, desde 2014, com a explosão das contas nacionais,
está mais do que tudo emergindo o déficit nominal, relativo ao pagamento de
todos os juros da dívida pública, que passou de 9% para 9,5% do PIB, mais
próximo de 10%, fato que tem das agências internacionais de risco entendido
como um país de alto risco para investimento ou de grau especulativo para
aplicações financeiras.
A perplexidade de hoje é a
divulgação pelo IBGE do PIB do terceiro trimestre, de – 1,7%. Considerando o
ano de outubro de 2014 a setembro de 2015, o PIB já recuou – 2,5%. Como o
início das estatísticas trimestrais datam de 1996, o que se pode dizer é que
tamanha recessão trimestral não havia há mais de 19 anos. Entretanto, o que se
tem conhecimento do calendário gregoriano (de janeiro a dezembro) do PIB, de
maior recuo histórico se deu em 1990, de – 4,3%, no triste primeiro ano do
governo de Collor. Mediante o dado de – 1,7%, analistas econômicos conhecidos
já elevaram a projeção do PIB deste ano para – 3,7%.
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