29/07/2015 - DIMENSÃO DO MAIOR PROBLEMA ECONÔMICO
O maior problema econômico
brasileiro se originou quando, para a Independência do País, em 1822, a
Inglaterra exigiu que o Brasil assumisse a dívida portuguesa para com ela,
visto que Portugal não tinha capacidade de pagá-la e o País tinha o mais alto
potencial de então, em relação à metrópole. Ademais, foi a Inglaterra que
guerreou com o Brasil contra Portugal para a independência e também cobrou o
custo dessa guerra. Assim, o Brasil nasceu devendo. Muito pior, as exportações
brasileiras de commodities sequer davam ou conformavam os pagamentos de juros e
principal da dívida em vários anos, além da necessidade de importações. Dessa
forma, a dívida externa era renegociada de tempos em tempos. As necessidades
crescentes do governo também o levaram a constituir a dívida interna. Ambas, a
dívida externa mais a dívida externa se constituem na dívida pública. Referida
dívida nunca foi elidida. Pelo contrário, cresceu muito no tempo. Ficou
clássica a frase de Antônio Delfim Netto nos anos de 1970, quando Ministro da
Fazenda: “dívida não se paga, rola-se”. Portanto, ele turbinou o endividamento
brasileiro, na fase do chamado “milagre econômico”, quando o País cresceu mais
de 10% ao ano, como nunca tinha crescido. Porém, a dívida cresceu muito mais.
Nos anos de 1980, a crise da dívida fez o Brasil abandonar o planejamento de
longo prazo e o mesmo Delfim Netto recorreu aos financiamentos monitorados do
Fundo Monetário Internacional (FMI). Nas últimas décadas o Brasil foi trocando
o endividamento externo por interno, sendo este muito maior e de menores
pressões para o Tesouro Nacional.
No curso de cinco séculos o
Brasil fez várias moratórias. Isto é, pedido aos credores de reescalonamento da
dívida, inclusive de juros, quando não, recorreu ao FMI. Devido ao
comportamento de pagador com dificuldades e sempre recorrendo a prorrogações, o
País não detinha o grau de investimento, até março de 2008. Isto é, o selo de
confiança de bom pagador internacional, por isso mesmo, recebendo os maiores
encargos financeiros, refletidos principalmente nas maiores taxas de juros. A
Nação convivia secularmente com elevadas taxas inflacionárias, que
desorganizava o aparelho produtivo. Somente depois do Plano Real, em 1994, a
economia se estabilizou monetariamente e passou a melhor organizar sua economia
doméstica. Dessa forma, em 2008, recebeu o grau de investimento das três
maiores agências classificadoras de risco internacionais, a Standard &
Poor’s, a Fitch e a Moody’s. De lá para cá, o cenário brasileiro, no entanto,
mudou muito. Sete anos depois a economia está em recessão, as contas públicas
desorganizadas, a equipe econômica fazendo um ajuste fiscal desde o início do
ano e paira a ameaça do País perder o selo de confiança dos investidores
internacionais.
Em junho, a dívida pública
atingiu R$2,58 trilhões. Ou seja, mais de 63% do PIB. Para carregá-la, em tese,
precisa-se de pagar cerca de R$400 bilhões somente de juros. Mais uma vez se
rolará principal e maior parcela de juros, tendo a equipe econômica se proposto
a pagar, no início do ano R$66,3 bilhões, cerca de 1,13% do PIB. Porém, com a
recessão fortemente instalada, caindo também fortemente a arrecadação, no dia
22 passado, eles revelaram que somente poderão economizar R$8,7 bilhões, neste
ano. Isto corresponde a 0,15% do PIB e a 2,18% dos juros que seriam devidos.
Em resumo, a dimensão do maior
problema econômico brasileiro continua sendo a dívida pública, seja por que
cresce, tomando cada vez maior parcela do PIB, seja por que torna cada vez mais
difícil o País crescer com a atual política monetária ortodoxa, de elevar os
juros e de não promover as reformas econômicas necessárias. Assim, agora foi a
vez da agência de risco Standard & Poor’s em colocar como negativa (BBB-) a
perspectiva da economia brasileira. O risco de cair a nota de confiança aumentou.
A própria agência revelou que, se o Brasil não voltar a crescer, poderá perder
o grau de investimento.
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