29/01/2015 - BOLA DE NEVE LADEIRA ABAIXO



A bola de neva ladeira abaixo é o que se vê com a divulgação descuidada do balanço trimestral da Petrobras, que deveria ter sido publicado em novembro, como de praxe, mas não ocorreu, visto que a auditora Price Waterhouse Coopers se recusou a sua aprovação, tendo sido adiada duas vezes a publicação. O resultado apresentado é de um lucro de R$3 bilhões, sem contar prejuízos de corrupção, quando já se apresentam cálculos, no esquema traçado pela operação Lava-jato, investigação da Polícia Federal em curso, de valor astronômico, de mais de R$88 bilhões de desvios. O valor de mercado caiu em um só dia R$13,9 bilhões. Uma fortuna para fazer cerca de 14 milhões de ricos. Em 2010, a Petrobras valia R$380,2 bilhões. Ontem chegou a R$114,8 bilhões, correspondentes a 30% daquele valor. Além dos 23 grandes conglomerados empresariais envolvidos, mais 10 deles foram denunciados nesta semana pela justiça Federal do Paraná. São 33 grandes empregadores, reduzindo produção e tendo horizonte de punições. Ontem mesmo as ações da Petrobras desabaram em 11% de retração na BOVESPA. A repercussão internacional tem sido muito severa. Existe uma exigência de que a questão seja logo esclarecida. Mais ações internacionais de aplicadores em recibos de ações da empresa (ADRs) ingressaram na justiça de Nova York. Se a Petrobras for julgada, o prejuízo será enorme. A maioria das empresas que são denunciadas por irregularidades na bolsa de lá preferem fazer acordo com os promotores, evitando julgamento, dado que os juízes americanos arbitram multas astronômicas. Acredita-se que este seja o caminho da estatal. Quanto mais cedo a situação da petrolífera for resolvida, os prejuízos poderão ser diluídos, na repercussão enorme que terá na economia como um todo. Já se espera estagnação em direção à recessão e não recuperação para crescimento. Também se soma imediatamente à citada bola de neve as questões hidráulica e elétrica, de racionamento com multas no Sudeste, a seca continuada no Nordeste e as enchentes da maior histórica do rio Madeira no Amazonas.

O momento é dos mais difíceis. O artigo de dois dias atrás, na Folha de São Paulo, da senadora do PT, Marta Suplicy, cujo título é “o diretor sumiu”, leitura imperdível, acessado por milhões, começa assim: “Tenho pensado muito sobre a delicadeza e a importância da transparência nos dias de hoje. Temos vivido crises de todos os tipos: crise econômica, política, moral, ética, hídrica, energética e institucional. Se tivesse havido transparência na condução da economia no governo Dilma, dificilmente a presidente teria aprofundado os erros que nos trouxeram a esta situação de descalabro. Não estaríamos agora tendo de viver o aumento desmedido das tarifas, a volta do desemprego, a diminuição de direitos trabalhistas, a inflação, o aumento consecutivo dos juros, a falta de investimentos e o aumento dos impostos, fazendo a vaca engasgar de tanto tossir”. É bom lembrar que, em campanha a presidente disse que não faria nada disso, “nem que a vaca tussa”, falou. Para Marta então concluir: “É o que o mercado tem vivido e, por isso, não investe. O empresariado percebe a situação e começa a desempregar. O povo, que não é bobo, desconfia e gasta menos para ver se entende para onde vai o Brasil e seu futuro. Acrescentem-se a esse quadro a falta de energia e de água, o trânsito congestionado, os ônibus e os metrôs entupidos, as ameaças de desemprego na família, a queda do poder aquisitivo, a violência crescente, o acesso à saúde longe de vista e as obrigações financeiras de começo de ano e o palco está pronto. A peça se desenrola com enredo atrapalhado e incompreensível. O diretor sumiu”.

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