21/01/2015 - SAMBA DO CRIOULO DOIDO



O humorista Sérgio Porto, já falecido, é autor do Samba do Crioulo Doido, uma brincadeira em que o personagem troca nomes e fatos históricos, ficando engraçado o samba, dentro de uma trapalhada em geral. No Brasil, historicamente o governo criou órgãos e, sempre que possível, tentou e muitas vezes conseguiu alterar resultados, principalmente na etapa da ditadura mais recente (1964-1984), quando os indicadores econômicos sofreram manipulação, principalmente a inflação. Por exemplo, em 1973, quando o Brasil obteve a sua mais alta taxa de crescimento acima de 14%, o governo dizia que a inflação estava também na casa de 14%, mas o Fundo Monetário Internacional desmentia, afirmando que era manipulada (e era mesmo), sendo de 34% naquele ano. Os órgãos de estatísticas nacionais mais famosos eram e ainda são o IBGE e a Fundação Getúlio Vargas (FGV). Foram manipulados, é verdade histórica. Ademais, não podiam quaisquer instituições oficiais (incluindo federais, estaduais e municipais) gerarem controvérsias ou contestarem o poder autocrático.

Depois de 1994, após o advento do Plano Real, em que os fundamentos econômicos ficaram transparentes, o IBGE e a FGV ficaram fortalecidos, bem como se elegeu o Banco Central (BC), devido ao fato da grande capilaridade que ele tem, visto que atinge todo o território nacional através do controle dos meios de pagamentos, para ser um órgão de estatísticas confiáveis. Ocorre que, nos últimos 12 anos, enquanto o BC divulgou boas estatísticas, principalmente na era Lula, o indicador do incremento do PIB, chamado de Índice de Atividade Econômica do Banco Central de Atividade (IBC-Br) era aplaudido. Depois, nos últimos anos, O Banco Central foi mais além, passando a consultar 100 especialistas do mercado financeiro acerca das projeções do PIB, da inflação, além de informes conjunturais, contidos no boletim Focus, semanal das segundas feiras do BC.

Quando então virou um samba do crioulo doido? Quando tudo deixou de serem flores para os poderosos, durante o primeiro mandato da presidente Dilma. Ou seja, o Ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciava um indicador desejável do PIB, de 2011 a 2014, alterando trimestralmente. Na melhor das hipóteses falava ele em 5% e na pior das hipóteses em 3%, no início do ano. Porém, como o governo de Dilma obteve um PIB crescendo 2,7%, 1%, 2,5%, 0,15% (estimativa), ele era obrigado a baixar durante cada ano, a cada anúncio, a sua taxa era otimista demais. Não acertou uma previsão. Já com respeito ao IBC-Br este se assemelhava, anunciado antecipadamente, ao indicador do PIB oficial do IBGE. Contudo, o que acreditava o governo ter sido bom, o BC divulgar seu indicador alternativo, de repente, neste ano, ele ficou contrário ao número oficial do IBGE e ao do boletim Focus, em um verdadeiro “samba do crioulo doido”, para as expectativas do governo. Assim, na semana passada, o IBC-Br foi anunciado de incremento do PIB de 2014, de 0,7%. Como a crise internacional se deu de 2008 para 2009, tendo o Brasil sido o último a entrar e o primeiro a sair, o crescimento negativo do PIB de 2009 foi de – 0,2. Agora, a economia em recuperação, o Brasil ingressou sozinho, segundo o IBC-Br, na surpreendente estagnação. Espera-se que não seja recessão, porque há essa possibilidade, embora muito pequena.

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