08/09/2012 - CHEQUE ESPECIAL
No Brasil os juros são
livres. Já foram tabelados. A lei da usura punia, prendia, processava quem
cobrasse juros acima de 10% ao mês. No entanto, nos anos de 1980 a 1992, a
inflação passou de 100%, para 200% e foi subindo à estratosfera, até atingir
2.500%. Houve que parar para acertar. Referida parada foi o Plano Real, com
precondições dadas em 1993 e implantado em 1994. No entanto, até o ano passado,
as administradoras de cartões de crédito financiavam suas vendas com taxas bem
acima de 10%, assim como os bancos tinham uma linha de crédito facilitada, o
chamado cheque especial, que cobrava taxas de juros próximas a 10%, mensais.
Porém, há um ano, o Banco Central reduziu a taxa SELIC de 12,5% para 7,5%,
obrigando, por ameaças e sugestões, que os bancos também reduzissem suas taxas.
Os bancos oficiais seguiram as orientações, mas os bancos particulares
resistiram bastante, até hoje. O fato é que os juros altos dos cartões de
crédito e do cheque especial baixaram um pouco de 12% ao mês. Assim,
longuíssimo período da história republicana se praticaram taxas de juros
extorsivas, de verdadeiros agiotas, pelos próprios bancos.
Para provar do próprio
veneno, decisão tomada, dia 03 deste mês, pelo Órgão Especial do Tribunal do
Rio de Janeiro, livrou o Banco Bradesco S.A. de pagar uma das maiores
indenizações da história, se não a maior, do judiciário fluminense. Por 19
votos a 1 foi rescindido o próprio acórdão daquele Tribunal, que obrigava o
Bradesco a ressarcir aos herdeiros de Walter Vital de Mello, em R$1,4 trilhão,
por ter sido processado o Bradesco pelo desvio de R$4.505,30, cuja ação é de
1994, provavelmente antes do Plano Real, quando era cobrada a estratosférica
correção monetária e depois calculados os juros bancários sobre o montante
encontrado. O valor incrível de R$1,4 trilhão foi encontrado após a condenação
da 4ª Vara Cível do Rio de Janeiro mandar aplicar os mesmos juros e correção
monetária que aquele banco aplicava sobre as contas devedoras do cheque
especial.
Bem a propósito sobre o
desvario que se pratica em bancos está o artigo de J. R. Guzzo, na coluna Vida
Real, da revista Exame, datada de 05 deste mês, ao referir-se a um dos 37 julgamentos
do “mensalão” pelo STF. “Ao proferir sua decisão sobre esse aspecto (relativo
ao Banco do Brasil), o revisor do processo, ministro Ricardo Lewandowski
afirmou que imperava uma ‘total balbúrdia’ na área de publicidade do banco
estatal, um dos seus setores mais críticos, considerando-se a quantidade de
dinheiro que sai dali em direção a bolsos particulares, inclusive de forma
lícita. As investigações revelaram a circulação na área, de 80.000 notas frias,
um possível recorde nacional, talvez mundial, na prática de falsificação em
massa. Ficou comprovada, segundo os juízes, a distribuição de propinas. O
grande banco do Estado brasileiro pagava por serviços que não recebia e por aí
segue a procissão”, disse o repórter. E mesmo assim o Banco do Brasil não
quebrou, sendo dos mais lucrativos, justamente porque pratica juros e taxas
estratosféricas. Em seguida, o autor se refere ao primeiro mandato do
presidente Lula, em julgamento: “No caso do Banco do Brasil, dois terços dos 33
cargos da alta direção foram doados por Lula a aliados políticos; só poderia
dar no que deu. O Itaú, o Bradesco e o Santander, por exemplo, tomam extremo
cuidado na escolha de seus diretores e principais executivos. Sabem, pela
experiência acumulada em séculos, o perigo que é mexer com dinheiro, sobretudo
com dinheiro dos outros”.
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