03/09/2012 - TÚMULO DE SANGUE
O Ministério da Saúde
esconde em depósito na cidade satélite de Águas Claras, em Brasília, de 55 mil
bolsas de plasma humano, cuja validade está vencida há cinco anos. Está o
estoque referido trancado a 50º negativos num câmara frigorífica vigiada por
seguranças armados. As 55 mil bolsas equivalem à doação de sangue de 55 mil
brasileiros. Em 2011, foram feitas 3,4 milhões de coletas de sangue no Brasil.
O desperdício equivale a seis dias de coleta em todo o território nacional.
Cada bolsa contem 250 mililitros de plasma sanguíneo, equivalentes a 13,7 mil
litros de plasma sanguíneo ora imprestáveis. Os 13,7 mil litros referidos
seriam suficientes para encher mais da metade de um caminhão pipa. O consumo
diário da rede hospitalar da capital federal é de 15 litros de plasma ou 60
bolsas de sangue. O estoque em referência daria para abastecer 900 dias ou dois
anos e meio. O litro de plasma sanguíneo custa em média US$120.00,
correspondente a um barril de petróleo. O prejuízo das 55 mil bolsas é de
US$1,6 milhão. As investigações estão sendo feitas pelo Ministério Público e
tribunal de Contas da União. Os lotes vencidos foram coletados em 41
hemocentros e bancos de sangue em vários Estados em 2003 e 2004. As datas
coincidem com o escândalo da Operação Vampiro, desbaratada pela Polícia
Federal, comércio ilegal de derivados de sangue.
No primeiro governo de Lula,
o Ministro da Saúde era Humberto Costa, hoje senador. Na época chegou a ser
indiciado, afastado, mas em março e 2010 foi absolvido. Com apenas dois anos de
senado, candidata-se a prefeito de Recife, pelo PT, numa estratégia para chegar
ao governo de Pernambuco. Sucessor de Humberto Costa, ministro Saraiva Felipe
(PMDB) iniciou projeto básico de contratação de um novo serviço de
beneficiamento do plasma. Após oito meses foi substituído por Agenor Álvares,
hoje na ANVISA. Nenhum dos dois tocou no problema. José Gomes Temporão (PSB),
em 2007, também não enfrentou o problema. A gestão de Alexandre Padilha (PT),
desde 2011, solicitou o descarte do material, mas nada foi feito. O Ministério
Público considera as denúncias extremamente graves nos Estados de São Paulo,
Rio de Janeiro e Bahia. Somente uma apuração aprofundada poderá determinar o
descaso, a incompetência administrativa ou novo esquema de corrupção no
Ministério da Saúde, com conexões até na França, onde são processados os
derivados de sangue.
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