26/01/2018 - MEDOS QUE ADVEM DA RECESSÃO




Olhando as classes sociais: os pobres temem o desemprego e a recessão de 2014-2016 trouxe o desemprego até o início de 2017, deixando 14 milhões de pessoas sem emprego, a maioria de pobres, sem carteira assinada, a uma taxa perto de 13% da população economicamente ativa, de mais de 100 milhões; os subempregados aumentaram sensivelmente e se agarraram a muitas atividades de serviços de rua e de abrir pequenas portas para sobreviver; a classe média recuou, como os outros, no seu consumo mais ainda, tendo na verdade adiado a compra da casa própria, a troca do carro usado por novo, viagens, turismo e outras formas de lazer e de pretensa luxúria; os capitalistas, mediante a grande queda do consumo, engavetaram seus projetos, reduziram sua produção, reduziram suas margens de lucro, se ainda a tinham. Ou seja, em cerca de 11 trimestres de recessão no período de abril de 2014 a dezembro de 2016, os medos criados, além de postergarem a dinâmica da economia, têm reagido lentamente, prolongando o mal estar de uma das piores, senão a pior recessão de mais de cem anos de história, visto que há autores que dizem que a de 1981-1983, foi pior em 0,1%, segundo estatísticas recentemente corrigidas pelo BNDES. Porém, os reflexos dessa estão piores na recuperação do que aquela dos anos de 1980.

Alexandre Schwatsman, economista ortodoxo, que já foi diretor do Banco Central, colunista da Folha, em seu artigo quinzenal, do dia 24, “Tolstói e as recessões”, demonstra um cenário mais amplo, conveniente para o tema: “De 1980 para cá, período que dispomos de dados razoavelmente consistentes, para o PIB trimestral, o Brasil passou por oito recessões... Em 49 desses 151 trimestres estivemos em recessão, instabilidade que, se não é causa última do nosso fraco desempenho, do ponto de vista do crescimento, certamente ajuda a entender fenômenos como a cautela empresarial no que diz respeito a decisões de investimentos. Parafraseando Tolstói, porém, a cada recessão somos infelizes de uma maneira. Das oito mapeadas... cinco foram breves ou pouco profundas... Apenas três delas, portanto, tiveram a honra de serem, simultaneamente, longas e profundas: a associada à crise da dívida externa no início dos anos de 1980; a que conjugou o fim do desastroso governo Sarney à não menos desastrosa política econômica do governo Collor; e, finalmente, a herança da Nova Matriz do governo Dilma, da qual emergimos apenas no começo do ano passado.... À luz da história dos últimos 38 anos, não parece razoável imaginar uma saída rápida da recessão de 2014-2016... Isto é, o retorno anterior ao pico da crise provavelmente em 2019”. Ou seja, seis anos de atraso econômico e de perda de parte substancial do bônus demográfico.

Levantar a poeira, sacudir e dar a volta por cima, parafraseando excelente canção popular, na voz do cantor Noite Ilustrada.

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