06/08/2016 - ENGESSAMENTO ECONÔMICO E POLÍTICO
A “Formação Econômica do Brasil”,
título do clássico livro de Celso Furtado, mostra o engessamento econômico do
País, qual seja de que o gesso não deixa o Brasil se movimentar de forma
suficiente a deixar de ser um país de uma maioria de pessoas pobres e emergentes.
Ricos aqui seriam 1% da população. Parte substancial do gesso econômico,
conforme o livro se deve ao Tratado de Methuen, de 1703, feito entre Inglaterra
e Portugal, regulamentando que Portugal forneceria produtos agrícolas e
Inglaterra produtos manufaturados, que serviu de base a que Adam Smith
desenvolvesse a teoria de vantagem absoluta no comércio mundial. Proibia
Portugal de desenvolver indústrias em suas colônias. Portanto, estava proibida
a indústria brasileira de desenvolver-se por cerca de dois séculos. Ademais,
isto tornou a indústria brasileira, depois de 1930, por ser protegida pelo
Estado, até 1990, de baixa produtividade. Isto continuou até hoje para muitos
segmentos industriais, enquanto outros se tornaram competitivos
internacionalmente, principalmente aqueles ligados ao agronegócio, cuja
produtividade não para de crescer, enquanto outros segmentos regridem
fortemente. Outra parte do gesso, maior ainda, trata-se da dívida pública,
nascida no Império, quando o Brasil contraiu perante a Inglaterra a dívida
externa portuguesa. Não bastasse ainda, colocaram também na dívida as guerras
de independência. Estoque enorme de débitos, dificilmente era pago, às vezes,
só parte dos juros. Muitas vezes, nem principal, nem juros, redundando em
diversas moratórias na história. Agora, desde 2014, embora não tenha ingressado
em moratória (não pagando nada da dívida), porque incorreu em déficit primário,
dado que a dívida desde 2003 se tornou basicamente interna. Ao que parece, a
situação irá perdurar até 2018. Toda vez que ocorre a crise da dívida, o Brasil
ingressa em recessão e piora o conjunto das contas nacionais. Nos últimos
tempos a indústria tem caído mais do que o PIB.
Já a questão política sempre
apresentou, em grave crise econômica, nós severos para serem desatados. O
último deles, em 1990, resultou no impeachment do presidente Collor. Na
anteriormente mais grave crise, de 52 anos atrás, resultou na ditadura militar,
que demorou 21 anos. Em ambos os momentos, a questão política foi resolvida
pela força. Em dois meses de governo, Collor foi o que mais editou medidas
provisórias, 17. Durante a ditadura militar, as reformas compuseram o Programa
de Ação Econômica do Governo (PAEG). Agora, na maior recessão da história, o
presidente Michel Temer pretende realizar a reforma de gastos a partir do
próximo ano, sendo a PEC relativa a ela aprovada em outubro deste ano; a
reforma da Previdência, mediante PEC a ser aprovada em 2017, para vigorar a
partir de 2018; a reforma trabalhista, ainda não delineada a partir também de
2017. Enfim, de Temer se espera as mudanças estruturais aos poucos. Já as
reformas microeconômicas, que melhorem o ambiente geral dos negócios poderão
vir já. Contudo, não se espera muito que o País deslanche, senão, depois de
2018, podendo ingressar em ciclo virtuoso a partir de 2020. Salvo melhor juízo,
muita contrição poderá acontecer até chegar anos de bonança.
Lembre-se aqui que o artigo é
dirigido principalmente aos alunos de Economia Brasileira, quando o PAEG
poderia ser esmiuçado. O que o governo interino teria a aprender com o PAEG?
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