10/10/2015 - DE SUPERÁVIT PARA DÉFICIT DO GOVERNO
O problema da gestão econômica
atual é que transformou um superávit fiscal anual em déficit primário. O Brasil
não deve ter déficit público primário, que é a diferença entre a arrecadação e
as despesas, visto que tem uma enorme dívida pública, por volta de 65% do PIB,
até o ano passado era de 63%. É um montante enorme, superior a R$2,6 trilhões.
Durante a era FHC, houve déficit no primeiro mandato (1995-1998). Porém, do
segundo mandato em diante (1999-2002), firmou-se um tripé econômico, formado
por superávit primário, câmbio flutuante e sistema de metas de inflação, fixado
pelo Conselho Monetário Nacional, visando crescimento sustentável. Como aqui o
assunto agora é superávit, estabeleceu-se desde 1999, que se perseguiria um
saldo positivo referido de 3% do PIB. Durante a era Lula, em dois mandatos, ele
foi mantido. Daí, a razão do crescimento médio por volta de 4% ao ano de
2003-2010. A perseguição do superávit primário é porque permite ao governo ter
condições de pagar pelo menos os juros da dívida pública e não somente ficar
rolando principal e acessórios. Durante o primeiro mandato da presidente Dilma
houve piora nas contas federais. Demonstra-se isto, por simplicidade que houve
superávit em 2011 de R$122,9 bilhões; em 2012, de R$109,5 bilhões; em 2013, de
R$89,7 bilhões; mas, em 2014, houve déficit de R$18,1 bilhões, conforme dados
do Tesouro Nacional. Não bastasse isto, a atual equipe econômica se prontificou
a fazer um ajuste fiscal, não garantindo ainda para este exercício superávit
primário. Além disso, mandou no dia 30 de agosto passado, a proposta de
orçamento federal para 2016 com déficit de R$30,5 bilhões. Desde o início do
ano, que jogou a economia brasileira em forte recessão, perdendo credibilidade
da agência de risco Standard & Poor’s, que colocou o país sem selo de
qualidade, considerado país de grau especulativo.
No ajuste fiscal o governo se
propôs cortar 30% do orçamento público deste ano. Porém, a arrecadação caiu
bastante e tem havido até agosto um déficit acumulado de R$14 bilhões. A
recessão está muito forte e as últimas medidas de cortes foram anunciadas pelo
corte de oito ministérios, sem discriminar onde. Inclusive, a presidente propôs
ao Congresso cortar 10% do seu salário e de todos os seus ministros, além de
manter a proposta de adiamento do reajuste do funcionalismo de janeiro para
agosto. Não será surpresa, devido à exiguidade do tempo, se o exercício se
encerrar pelo segundo ano com déficit. Há muitas medidas que ainda dependem do
Congresso Nacional, inclusive criação de tributos.
O gancho de redução de 10% de
salários do primeiro escalão é pego por Roberto Luiz Troster, em artigo de
ontem na Folha de São Paulo, sugerindo a criação do Programa de Proteção da
Solvência do Estado, que se resume a não haver aumento salarial de todo o
funcionalismo do Executivo, Legislativo e Judiciário, no ano que vem, afetando
aqueles que ganham acima de três salários mínimos, no argumento de que os
salários do setor público são maiores do que os salários do setor privado.
Pelos seus cálculos se fechariam as contas de 2016. Acredita-se aqui que o
caminho não é congelar parte dos salários acima do teto referido. O que
deveriam ser cortados seriam as mordomias de toda espécie, tipo carro público,
viagens aéreas, diárias, verbas de gabinete, verbas de representação,
burocracia, combate à corrupção. Enfim, reengenharia nos órgãos públicos,
havendo até sobra de recursos que poderiam ser dirigidos para a tão combalida
infraestrutura. Mas, “falar é fácil, fazer é que são elas”.
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