12/11/2014 - RESGATAR CONFIANÇA




Antecipando a renúncia global do ministério, prevista para dia 18 próximo, a ministra da Cultura, Marta Suplicy, pediu ontem demissão do cargo, retornando ao Senado por São Paulo, onde tem mais quatro anos de mandato, em rota de colisão com a presidente Dilma Rousseff. Ela cobrou do governo que resgate a confiança e a credibilidade da próxima equipe econômica. Magoada, segundo ela porque não atendeu imensas demandas, visto que não obteve aprovação pelo Congresso de vários de seus projetos, lá ainda tramitando por mais de dois anos, por falta de apoio, para obter propostas de verbas carimbadas no Executivo. No texto da carta de renúncia, Marta se refere a que a presidente “seja iluminada ao escolher sua nova equipe de trabalho, a começar por uma equipe econômica independente, experiente e comprovada, que resgate a confiança e credibilidade do seu governo e que, acima de tudo, esteja comprometida com uma nova agenda de crescimento e estabilidade para nosso País. Isto é o que o Brasil hoje, ansiosamente, aguarda e espera”. Marta já era conhecida pelo seu apoio ao “volta Lula”, por ser crítica ao fraco desempenho de Dilma em quatro anos, mediante crescimento médio anual de 1,6%. O ministro da Casa Civil, Aloísio Mercadante, ex-senador por São Paulo, ficou irritadíssimo. Ambos, companheiros desde o início do PT. Transparece, assim, que existe dentro do PT grande divergência quanto ao estilo centralizador e autoritário da presidente Dilma, confrontado com o estilo democrático do ex-presidente Lula. Por trás de tudo, claro, ninguém demove a presidente Dilma de deixar de querer ser o “ministro da economia”, fazendo o atual Guido Mantega, de marionete, visto que se apresenta como um repetidor de previsões graciosas, que nunca aconteceram.

O que se entende é que a presidente reeleita não quer mudar a condução econômica de um governo gastador, apresentando até setembro déficit primário de mais de R$15 bilhões, quando deveria apresentar superávit prometido de mais de R$100 bilhões. O governo ontem apresentou proposta de lei que altera a meta fiscal, estando atualmente em 1,9%, conforme Lei de Diretrizes Orçamentárias para este ano, de R$116 bilhões. A proposta é de utilizar os investimentos do PAC, de R$54 bilhões, mais as desonerações fiscais feitas de R$84 bilhões. Isto vai de encontro à Lei de Responsabilidade Fiscal de 2.000. Pior, de encontro aos princípios contábeis internacionais geralmente aceitos. Claro, poderá influenciar na nota do grau de investimentos do próximo ano para o País, com tendência de baixa.

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