21/04/2014 - FUGA DE RESPONSABILIDADES



O caso da compra da refinaria de Pasadena, Texas, Estados Unidos começou a gerar polêmica desde a sua aquisição, em 2006. No mês passado, a presidente Dilma declarou ao jornal Estado de São Paulo, que a aquisição se baseou em resumo técnico “falho e incompleto”. Por que aprovou? A documentação completa esteve a sua disposição, dossiê de mais de 400 páginas. Atribuiu-se a Lula a declaração de que “Dilma deu um tiro no pé”. Ele não confirmou, nem retificou. Mostrou-se aí incompetência na condução de negócio que custou US$1,2 bilhão, valendo a preços de mercado US$200 milhões. Prejuízo de US$ 1 bilhão. Ficou claro que Lula e Dilma não estão tão afinados assim, pelos desdobramentos seguintes. O ex-presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, muito ligado a Lula, tendo Dilma o exonerado e colocado sua candidata, veio a declarar, em comissão investigativa do Congresso, que na época fora bom negócio. Poucos dias depois, na mesma comissão, Maria das Graças Foster, atual presidente da empresa, afirmou que foi um mau negócio. O debate se acentou com o a proposta de abertura de CPI da Petrobras. O caso está no Supremo Tribunal Federal, para desfecho ainda nesta semana, se haverá ou não CPI exclusiva. A última entrevista de Gabrielli, ao jornal Estado de São Paulo, causou mais rebuliços: “Não posso fugir da minha responsabilidade, do mesmo jeito que a presidente Dilma não pode fugir da responsabilidade dela, que era presidente do conselho. Nós somos responsáveis por nossas decisões”. Só faltou dizer de quem era a maior responsabilidade no caso. A imagem de bons gestores da estatal está arranhada. Ademais, era Lula o presidente do Brasil quando a citada refinaria foi adquirida. Até quando ele ficará calado? Se a CPI for instalada, sem dúvida, o debate será mais ainda esquentado.

O jornal The New York Times International Weekly também desta semana traz artigo em que se intitula: “Brasil grandioso se desfaz”. Baseado nas informações do economista Gil Castelo Branco, diretor da ONG Contas Abertas, cita dezenas de obras faraônicas começadas há mais de dez anos, inacabadas, superfaturadas, adiadas. Castelo Branco assim se refere: “Os fiascos se multiplicam e revelam uma desordem que, lamentavelmente, é sistêmica. Estamos acordando para a realidade de que recursos imensos são desperdiçados, em projetos extravagantes, ao passo que nossas escolas públicas ainda são péssimas e falta saneamento básico em nossas ruas”. São destacados os projetos da transposição de águas do São Francisco, que já custou mais de US$3,4 bilhões, prometida para 2010, mas inconclusa; a ferrovia Transnordestina, começada em 2006, já custou mais de US$3,2 bilhões, inconclusa; dois estádios de futebol, em Brasília e Manaus, cidades que não possuem público bastante para frequentá-los; dezenas de novos parques eólicos prontos, mas sem funcionar por não possuir linhas de transmissão; museu de extraterrestres em Varginha. Enfim, centenas de projetos atrasados, alguns causados por acidentes fatais em obras e orçamentos estourados. De quem é a responsabilidade por tantos malfeitos?

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