31/07/2014 - CALOTE ARGENTINO E IMPLICAÇÕES BRASILEIRAS
Pela segunda vez, em treze anos,
a Argentina não pagou todas as parcelas renegociadas da sua dívida externa,
resultante da moratória de 2001, visto que cerca de 7% da sua dívida está nas
mãos de abutres americanos, os quais exigem pagamentos de principal e encargos
de forma plena. Isto praticamente representa outra moratória. A Argentina é o
caso de um país rico, do início do século XX, que se dirige para a pobreza no
século XXI. Em 1929, a Argentina era a sexta economia mundial. Hoje é o 29º
global. Em 1940, o PIB da Argentina era de quatro vezes o PIB brasileiro. Hoje
é um quinto dele. Depois da segunda guerra mundial, a Argentina desceu ladeira
abaixo. Era uma economia basicamente primário-exportadora e teve seus preços
deprimidos. A crise econômica decorrente levou a seis golpes militares
consecutivos. Mas, mesmo vindo a democracia no final dos de 1970, em 2001,
recorreu a moratória, a qual parece ainda não saiu. Em torno de um século,
desceu do grau de um país desenvolvido, nem passou para país emergente e
atualmente é considerado como candidato a país pobre.
O que isso implica diretamente ao
Brasil? Muita coisa. O Brasil tinha na Argentina o seu terceiro maior parceiro
comercial, estando em segundo os Estados Unidos e a China o terceiro. A
primeira implicação do “default” argentino já vinha se refletindo desde o
início do ano, quando as exportações brasileiras para lá recuaram por volta de
20% no primeiro semestre somente veículos recuou em torno de 34%). A segunda
implicação se resume à contribuição para a queda do PIB, ora estimado em 0,9%,
pelos 100 especialistas consultados pelo Banco Central semanalmente. A terceira
implicação decorre do rebaixamento da nota internacional da Argentina e a volta
da desconfiança da América do Sul neste abalo econômico sistêmico.
A lição do caso argentino deve
ser assimilada pelo Brasil, o qual vem reprimarizando sua economia no século
XXI, em contraste com a desindustrialização brasileira. Vale dizer, há aumento
crescente da produtividade no agronegócio e estagnação da produtividade
industrial, o que lhe traduz em perda de competitividade e redução de segmentos
industriais. O Brasil deve volver os olhos para o modo de crescimento de três
décadas da China, a qual vem fazendo contrario. Industrializando-se cada vez
mais e economia agropecuária cada vez menos. Na verdade, o Brasil está muito
longe de um ataque especulativo que ocorre na Argentina desde 2001, em razão
das suas elevadas reservas externas. Porém, está travado no crescimento
medíocre, menor do que 2% ao ano, nos últimos quatro anos.
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