21/06/2014 - ÂNCORA CAMBIAL
Historicamente, o Brasil adotava
o câmbio desvalorizado, até 1994, visando estimular as exportações. Assim, o
câmbio depreciado trazia mais dinheiro para o exportador, em moeda local, via
conversão das divisas. A injeção de dinheiro a mais trazia pressões
inflacionárias, além do adicional encarecimento das importações, cujo peso no
Índice Geral de Amplo (IPCA), indicador oficial da inflação, corresponde a
cerca de 30% de inflação importada. O Plano Real, em 1994, ao mudar o padrão
monetário, para a moeda oficial denominada de real, usou a Unidade Real de
Valor (URV), unidade de conta, sem ser moeda corrente, durante três meses, a
qual representava diariamente um valor monetário, em consonância com a taxa de
câmbio diária, IPCA, IGP da Fundação Getúlio Vargas e IGP-FIPE. No dia
01-07-1994, um real correspondeu a um dólar, tornando-se a nova moeda
brasileira há vinte anos. O objetivo da URV foi o de apagar a inflação
inercial, isto é, os preços subiam porque subiam no passado. Logo, este tipo de
inflação acabou, ocorrendo hoje inflação de um dígito, a chamada inflação de
expectativas. A então nova moeda surgiu forte, ao ponto de suas primeiras
cotações diárias apontarem até um dólar valendo 0,84 de um real. Dessa maneira,
a política cambial se tornou de uma moda real valorizada. A isto se chamou de
âncora cambial. Ao Banco Central (BC) compete transformar as moedas
estrangeiras dos negócios internacionais na moeda brasileira. As cotações
diárias acontecem de acordo com o mercado. Porém, o mercado tem a chamada
flutuação “suja”. Vale dizer, se o dólar subir muito, o Banco Central vende
moeda do seu estoque; se o dólar cair muito, o Banco Central compra. Essa
intervenção é um sucesso, haja vista que o BC o maior detentor de dólares no
País. As reservas brasileiras hoje estão por volta de US$380 bilhões.
Evidentemente, 30% da inflação estão assim sobre controle. Os outros 70% ainda
são controlados parcialmente pelo governo via preços administrados, de
derivados do petróleo, energia elétrica, dentre outros, indicador administrado que
no ano passado subiu somente 1,5%, enquanto a inflação ficou por volta de 6,5%.
O BC vai mais além, fazendo
negociações com o dólar, operações chamadas de swaps. Compras e vendas futuras
de dólares junto a instituições financeiras. Hoje as operações de câmbio tem
saldo vendido de US$88 bilhões. Se o real se valorizar o BC tem lucro. Se o
real se desvalorizar o BC tem prejuízo, cuja cobertura será feita pelo Tesouro.
Logicamente, a atuação do BC não mexe nas engordadas reservas. Então, para que
servem as reservas? Para garantir pagamentos de dívidas brasileiras com o
exterior. Elas estão aplicadas em títulos do governo americano e em títulos de
bancos de governo da Europa e do Japão. O problema é que tais títulos rendem
menos de 1% ao ano, enquanto o BC capta recursos pagando 11%. Em termos gerais,
a dívida pública está acima de R$2,1 trilhões. Os 10% de prejuízo de carregá-la
seriam grosso modo R$210 bilhões de prejuízo. Dinheiro saindo pelo ralo para
que o Brasil tenha a atual política cambial de suporte da economia para obter
credibilidade internacional. Este é dos preços que o capitalismo central cobra
de um país periférico, onde “os ricos ficam mais ricos”.
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