24/06/2012 - TRAJETÓRIA DA EDUCAÇÃO
Certa feia, o Professor José
Juliano de Carvalho Filho, em suas aulas na FEA-USP, especialista que era
(ainda é, mesmo aposentado e servindo a outras instituições) sobre a QUESTÃO
AGRÁRIA, chegou a uma das conclusões da ‘lógica do erro’. Isto é, as
intervenções do Estado em inúmeros planos, programas e projetos, são feitas
para não ‘dar certo’, seguindo o ritual que o Brasil deveria ser um país
periférico, explorado, subdesenvolvido. Quer dizer, o longo prazo para solidificar
o País era de ‘mentirinha’, dado que as intervenções não eram para valer. Pouco do planejamento global deu certo. Dentre
15 planos de desenvolvimento econômico, desde 1949 até hoje, somente dois deles
foram verdadeiros planos, o Plano de Metas, do Governo JK (1956-1960), e o II
Plano Nacional de desenvolvimento, do governo Ernesto Geisel (1974-1978). Na situação de hoje, em que o Brasil se
transformou em um país emergente, cada vez mais se impõe um verdadeiro plano de
desenvolvimento, com metas que contemplem o longo prazo, que sejam avaliadas
periodicamente, assim como reformas que levem o País ao grau de desenvolvido. A
reforma sempre citada como a principal delas é a educacional, a qual vem sendo referida,
remendada e não se realiza de verdade.
A linha do tempo da educação
brasileira começa alterar-se lentamente a partir do século XX. Quatro séculos
anteriores foram de prostração. O Brasil começou o século XX com 65% de sua
população como analfabeta. Ao assumir o poder, por golpe militar em 1930,
Getúlio Vargas criou o Ministério da Educação e Cultura (MEC). Em 1932, é
divulgado o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova. Faz 80 anos que um grupo
de brilhantes educadores, Anísio Teixeira, Cecília Meireles, Fernando de
Azevedo, Lourenço Filho, dentre outros, estabeleceram princípios de como
deveria ser a educação nacional. Escola obrigatória, laica, gratuita, sem
discriminação de gênero e classe social. Para os professores, remuneração digna
e qualificação incessante. O tempo passou e os entraves continuam. Em 1934, a
Constituição, pela primeira vez, decreta que a educação é direito de todos. Em
1940, a taxa de analfabetismo entre adultos era de 56%. Nessa mesma época, o
Chile apresentava taxa de 27%, a Argentina contava com 15% e os Estados Unidos
apenas 3%. Em 1946, a Constituição estabelece a obrigatoriedade do ensino
primário. Em 1961, é aprovada a primeira Lei de Diretrizes e Bases (LDB). O
ensino público era considerado de qualidade, mas atendia a apenas 31% da
população, entre 5 a 19 anos. Em 1972, é criado o Movimento Brasileiro de
Alfabetização (MOBRAL). Em 1988, a Constituição em vigor estabelece a educação
como direito de todos e dever do Estado e da família, obrigando Estados e União
a aplicarem, respectivamente, 25% e 18% das receitas em educação. Em 1996, nova
LDB é aprovada, propiciando mais autonomia a Estados e escolas pra organizar
sues projetos pedagógicos. Conforme censo de 2010, a escolarização dos 7 aos 14
anos alcança 97%. Porém, cerca de 10% da população adulta são analfabetos. Os
fatos são de que os alicerces da educação não estão postos como deveriam. A
educação não é obrigatória para todos. Se fosse, não haveria 10% de analfabetos
e mais de 3% das crianças fora da escola. Sequer, o estudante completa um turno,
de 200 dias por ano, conforme lei, dadas as greves e arremedos para reposição
de aulas, quando a educação deveria ser obrigatória e de tempo integral. O
Estado e a União não cumprem os gastos obrigatórios previstos pela
Constituição. Os professores não são bem remunerados e não tem a necessária
qualificação. Enfim, o dito por Ibrahim Sued desde os anos de 1960: “educação,
vergonha nacional”, permanece atual.
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