10/01/2020 - INTERPRETAÇÃO ERRADA DA SAÍDA DE DÓLARES




O saldo dos fluxos cambiais é composto de duas partes: o saldo do fluxo comercial, que mede as transações de exportações com importações, também chamado de saldo da balança comercial com o mundo, que tem sido positivo há muitos anos, embora tenha diminuído sensivelmente no ano passado pela guerra comercial entre Estados Unidos e China. Mais o saldo do fluxo financeiro, que mede investimentos em empresas, empréstimos e transações no mercado financeiro. Foi exatamente este saldo de capitais financeiros que fez haver uma saída líquida recorde de US$44 bilhões em 2019. Ao ponto de haver interpretação errada disso, conforme exposto por Miriam Leitão, em sua coluna de ontem no jornal O Globo, a seguir:

“Para a economia do Brasil tudo isso vem em hora muito ruim, em que começam a aparecer dados de recuperação. O aumento da incerteza não ajuda. Ontem o banco Central divulgou que a saída de dólares no ano passado foi a maior em 37 anos, de US$44,8 bilhões. Em parte é a aversão a risco que subiu com a guerra comercial entre Estados Unidos e China, dizem os economistas. Não dá para negar, no entanto, que o grande fator de risco foi o governo Bolsonaro e sua impressionante capacidade de criar crises e conflitos. Isso afasta investidores”.

O rancor político da Miriam a fez transferir um fato econômico em um fato fora da realidade. No ano passado, as taxas de juros caíram até 4,5%, fazendo com que os ganhos financeiros reais se aproximassem de zero, em um país em que o capital internacional encontrou em poucos anos atrás taxas reais de juros de até 7% anuais. Ora, o capital vai aonde maior é a taxa de lucro ou de juros. Em outros países emergentes e até em países desenvolvidos há taxas positivas reais de juros e lucros. Ademais, saíram também da bolsa de valores os capitais financeiros aplicados justamente porque o desempenho médio mundial foi muito maior, estimado pelo FMI em uma média de 3,1% ao ano, enquanto no Brasil fora estimado em 1,2% em 2019.

Sem contar que ingressaram muitos capitais para os leilões de concessões públicas em 2019.

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