08/03/2015 - CÂMBIO DEPRECIADO



Irresponsabilidade do Ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, ao afirmar que o governo não tem uma meta para o câmbio. Mesmo que não tivesse, dizer que o câmbio deve ser livre é bobagem. Não existe isso em lugar nenhum. Declarou anteontem, em evento promovido pela Câmara de Comércio França/Brasil, em São Paulo: “Não é uma depreciação que causa descontrole, mas simplesmente a mudança de patamar da taxa de câmbio, que tem um efeito restritivo a curto prazo, afeta a inflação, afeta o crescimento, mas que tem um efeito positivo a médio prazo, ao recuperar  competitividade da indústria e ao incentivar a maior entrada de investimentos no Brasil. O governo não tem uma meta de câmbio, a gente trabalha com qualquer cotação”. Ademais, explicou que o câmbio, ultrapassando R$3,00, está promovendo uma correção da alta da moeda registrada, entre 2007 a 2011, período de alta dos preços das commodities, quando o Brasil recebeu uma enxurrada de dólares, derrubando muito a cotação da moeda americana. De 2014 para cá, houve forte queda dos preços das commodities e de valorização do dólar, em face da recuperação da economia americana, que está chamando o dólar para investir em seu território e em seus títulos, que promoverão elevação dos juros em curto prazo. Ora, se afeta a inflação, se afeta o crescimento, o governo deveria ter meta com respeito ao câmbio, assim como tem a China, onde o Estado é soberano neste mister.  Não sem motivo, a China cresceu mais de 10%, por trinta anos e, nos últimos anos, desde a crise que começou em 2008 e ainda não se dissipou totalmente, sustenta-se acima de 7% anuais.

Dados do IBGE, ao calcular o índice oficial de inflação (IPCA), revelam que 30% da inflação brasileira decorrem das importações. Isto beneficiou sensivelmente o segundo governo de Lula, porque o dólar muito valorizado, a inflação despencou. O crescimento do PIB foi para cima, chegando até 7,5% em 2010. O contrário acontece agora, mediante dólar em trajetória de ascensão, a inflação disparou para 7,7%, agora anualizada em fevereiro, muito acima do limite dos 6,5%, isto é, teto da meta (4,5%), mais o viés de alta (2,0%). Pode subir ainda mais. Isto é muito ruim porque quanto maior a inflação menor o crescimento, que já está negativo. Quanto ao fato de que, em longo prazo, beneficiará as exportações, trata-se de uma falácia, visto que agora mesmo, perante a expressiva alta do dólar dos últimos meses, as exportações de manufaturados têm caído. As exportações brasileiras perderam competitividade internacional, devido ao alto custo do produto, carecendo de logística, sendo esta péssima, na ausência de muitas obras de infraestrutura, além da excessiva burocracia e da elevada carga tributária. Em decorrência, a balança comercial poderá repetir o segundo ano de déficit.

Até agora a presidente, tirada a economista, não repreendeu o citado ministro, como fez quando ele falou que iria propor novo cálculo do salário mínimo e, foi desautorizado, tendo de voltar atrás. Porque ela nunca deu pitaco em política cambial? Sem dúvida, não sabe como atuar, nem seus ministros. Talvez até eles saibam, como o presidente do Banco Central e o Ministro da Fazenda. Mas, têm medo da Dilma. Preferem dizer que  apostam “tudo” na política fiscal, que produz resultados imediatos e em curto prazo. Desprezam o longo prazo, não fazendo o verdadeiro planejamento econômico.

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