28/02/2015 - CONTIGENCIAMENTOCOMEÇOU E FICARÁ FORTE
A ortodoxia da política
econômica, em situação de elevada inflação e crescimento zero é a de redução
dos gastos públicos, quer queira, quer não, aqueles chamados de
“desenvolvimentistas”, justamente porque só acreditam em crescimento econômico
com aumento do tamanho do Estado. Só que, em quatro anos, o governo Dilma não
soube se contiver, nunca deixando de ampliar gastos públicos. Porém, com
somente essa carta-coringa (ajuste fiscal) no jogo, poderá fazer o contrário do
que fez em quatro anos. Dessa maneira, o governo editou o decreto 8.412, que
traz a reprogramação financeira dos órgãos do poder Executivo, para o primeiro
quadrimestre deste ano. O Secretário do Tesouro Nacional (STN), Marcelo
Saintive, antecipou que o governo irá reescalonar os pagamentos dos
ministérios, visando ajustar receitas às despesas públicas. Citado decreto limitou
as despesas de janeiro a abril em R$75,155 bilhões, sendo R$59,98 bilhões relativos
aos pagamentos do custeio da máquina pública, mais R$15,175 bilhões de
inversões do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). No quadrimestre
anterior, os gastos do PAC foram R$19,91 bilhões. A queda no PAC representa
R$4,37 bilhões. Ou seja, - 23,7%. Isto por si é ruim, em uma base que já vinha
pequena, perante um crescimento esperado de zero em 2014.
Antes, no início desta semana, o
governo tinha editado decreto que bloqueou R$142,6 bilhões de restos a pagar de
2015. Os restos a pagar são empenhos de recursos, para pagamentos de obras em
curso e de outras despesas. No início do ano, o governo já tinha limitado o
gasto mensal, por ministério, em 1/18 da verba de 2013, visando economizar
R$1,9 bilhão por mês.
Quando o orçamento for aprovado,
o governo editará outro decreto com novos limites de gastos. Provavelmente,
mais rigoroso. Mas, o que continua sendo “samba do crioulo doido” é o que
declarou o referido secretário do STN: “Não significa contingenciamento. Mas o
que eles, ministérios e órgãos públicos, poderão decidir em termos de alocação
de recursos. É uma medida importante enquanto o orçamento não for aprovado. É
um montante que poderá estar disponibilizado a estes ministérios até abril.
Caso haja aprovação do orçamento, temos de fazer uma nova programação”. Ou
seja, não é, mas é contingenciamento.
Por oportuno, as contas de
janeiro registraram superávit primário de R$10,4 bilhões, isto é, a economia
para pagar juros da dívida pública e tentar manter a sua trajetória de queda.
Trata-se de menor resultado para meses de janeiro desde 2009, quando foi
registrado um superávit primário de R$3,97 bilhões, perante a crise
internacional que se iniciou em setembro de 2008. O superávit de janeiro do ano
passado foi de R$13,03bilhões e o ano fechou com déficit primário de R$17,24
bilhões, o primeiro déficit primário em 18 anos. Entretanto, Estados e
Municípios surpreenderam, economizando R$10,544 bilhões, sendo o melhor
resultado deles da série histórica iniciada em 2001. Este seria o cenário 1, desejável,
abaixo.
Pelo exposto, para que se encerre
em um superávit primário de 1,2% do PIB em 2015 e de 2% do PIB em 2016, é
preciso muito aperto pela frente. Não sem motivo, a capa da revista The
Economist, desta semana, mostra o Brasil em um atoleiro e de que enfrentará
muitas dificuldades para sair do que ela chamou de bagunça da economia. Mas, no
cenário 1, dando certo o ajuste fiscal, a economia poderá crescer um pouco
ainda este ano. O que vinha se formando era o cenário 2, o de recessão por três
anos. Na melhor hipótese, estagnação. Claro, os cenários mudam e pode ser que, no
cenário 1, o ajuste fiscal tendo êxito, fazendo-se as reformas econômicas esperadas
e atraindo os empresários para investir (melhorando seu humor), poderá a
economia voltar a crescer até o final do ano. Mas, não será nada maior do que
2%. Em suma, o crescimento vindouro em longo prazo provavelmente será baixo. No
caso de êxito da política econômica, também provavelmente, somente no final do
segundo mandato da presidente Dilma é que a economia poderá chegar a
ultrapassar os 3% ao ano, salvo melhor juízo, em análise a partir do que hoje
se delineia. Na pior hipótese, cenário 3, ter-se-á uma forte recessão, abaixo
de – 2% ao ano. Ficar em zero seria o ponto intermédio, o cenário 4. Enfim, os
cenários 3 e 4 parecem que serão exorcizados.
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