21/02/2015 - IMOBILISMO VERSUS DINAMISMO
A Nova República, iniciada há
três décadas, transição da ditadura militar de 21 anos, os quais se utilizaram
de uma eleição indireta pelo Congresso Nacional, entre somente dois partidos,
PDS e PMDB. Mas, morreu o presidente eleito pelo PMDB, Tancredo Neves, sendo
substituído pelo seu vice, José Sarney, que mudou do PDS para o PMDB, para ser
candidato. A ele coube preparar o País para a democracia, através da convocação
da sétima Constituição Nacional, promulgada em 03-10-1988. Governou, de início,
com Decretos-Lei e, depois daquela data com Medidas Provisórias (MPs), que é
somente diferente no nome e tem prioridade na votação do Congresso. Foram
eleitos, em seguida, pelo voto popular quatro presidentes: Fernando Collor,
Fernando Henrique Cardoso, Luis Ignácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. Porém,
todos os presidentes se utilizaram das MPs, que, de urgentes se tornaram a
regra de dirigir via Executivo. Além do mais, todos os presidentes até então
tiveram o poder de veto, imobilizando parcialmente o País, em muitos casos, por
milhares de vetos, que ficaram por muito tempo sem serem votados, inviabilizando
projetos de leis aprovados pelo Congresso, dado que o Executivo dirigiu até
agora o País com a cooptação da maioria dos congressistas.
Depois de 12 anos na
vice-presidência, Michel Temer, contando mais quatro, 16 como vice, através do
PMDB, deu mostras de que poderá candidatar-se à presidência da República ou
outro candidato do seu partido, tal como Eduardo Paes, prefeito do Rio de
Janeiro. De diferente agora, neste quarto mandato de vice do PMDB, está à
eleição de um presidente da Câmara, o terceiro na sucessão, o meteoro Eduardo
Cunha (PMDB), que, de repente, quer dinamizar a democracia brasileira. Em duas
semanas, colocou em funcionamento a Comissão que proporá o projeto da Reforma
Política e fez a Câmara aprovar o projeto do orçamento impositivo, cujo sentido
é obrigar o governo a seguir o orçamento anual aprovado. No ano passado, o
Congresso aprovou a correção da tabela do Imposto de Renda igual à inflação de
6,5%. Dilma vetou, dizendo que o governo não tem recursos para pagá-la, depois
da farra que fez de apresentar déficit primário (gastar mais do que arrecadar),
de 0,6% do PIB, após dez anos consecutivos de superávit primário. Este e demais
vetos que ainda não foram apreciados pelo Congresso serão colocados em votação,
segundo Eduardo Cunha. Quer dizer, o enfretamento começou. Espera-se que a
toada daqui para frente seja para dinamizar a economia do País. A nova equipe
econômica já deu o tom de austeridade, prometendo superávit de 1,2% em 2015 e
de 2% para 2016 e 2017. Até agora, o Banco Central está combatendo
ortodoxamente a inflação, via taxa de juros. Há cortes de muitos gastos
públicos, para serem apreciados pelo Congresso. Os subsídios das empresas
privilegiadas foram retirados, principalmente de montadoras de veículos. O governo
parou com a política de transferir recursos para o BNDES, via endividamento
público, transferências essas para o crédito subsidiado a empresas
privilegiadas, que, em 2008, eram R$43 bilhões, sendo hoje o total acumulado de
R$473 bilhões. Ainda virão novas medidas de ajuste, para reduzir o tamanho da
máquina pública. A toada é de que é preciso restaurar a confiança e realizar as
preteridas reformas estruturais, tal como a mais referida é a tributária.
O cenário ficou mais complicado
ainda porque parte expressiva do PT não está concordando com o ajuste ortodoxo
da nova equipe econômica. Por outro lado, empresários beneficiados com
subsídios, tais como aqueles da indústria automobilística já procuram Lula,
para saber se vai haver nova política de incentivos. Mais de 5,2 mil funcionários
da General Motors de São Paulo ingressaram em greve geral, perante ameaça de
demissões. A operação Lava-Jato, ainda não concluída, detonou o primeiro pacote
de ações cíveis ajuizadas, contra executivos de seis das dezesseis empreiteiras
envolvidas, pelo Ministério Público Federal, pedindo que elas sejam condenadas
a pagar a cifra astronômica de R$4,47 bilhões, pelos atos de improbidade
administrativa que teriam praticados e de que sejam impedidas de novos
contratos com o poder público e de não receberem benefícios ou incentivos
fiscais ou creditícios. Na semana entrante será instalada nova CPI da Petrobras
com nova direção do Congresso. As crise das empreiteiras paralisa obras,
havendo demissões. Empresas terceirizadas reclamam de dívidas pendentes e
também demitem. Fornecedores também.
Em resumo, Eduardo Cunha, desde
2003, como deputado federal, contratou professor universitário para saber muito
detalhes do regimento interno do Congresso, surpreendendo colegas com propostas
de soluções de inúmeros projetos de lei pendentes. Ele é evangélico, tido como
fisiologista e oportunista. Mas, tem dado nova dinâmica à Câmara. Dificilmente
se viu no Brasil um início do ano com a economia tão conturbada.
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