27/02/2015 - PACOTE DE BONDADES DA CÂMARA
A sessão da Câmara de Deputados
Federal, de anteontem, comandada pelo seu presidente Eduardo Cunha (PMDB), aprovou
pacote de benefícios em causa própria, sem ir à votação, somente por acordo das
lideranças, o que mostra mesmo que Cunha é fisiologista, em franca contradição
com os debates sobre o ajuste fiscal do governo, que visa justamente reduzir
despesas públicas. Na contramão da austeridade, os deputados deixaram mais uma
vez perplexa a sociedade brasileira. Não bastassem os altos benefícios que os
parlamentares já gozam, o referido pacote de bondades representará um custo
adicional neste ano de R$112,8 milhões e de R$150,3 milhões, para 513
deputados. O problema é multiplicado por 27 unidades federativas e 5.565 municípios, que têm seus vencimentos e vantagens vinculados ao poder central. O presidente Eduardo Cunha ainda adiantou que a Câmara pretende realizar investimentos em escritórios e anexos daquela Casa no valor de R$1 bilhão.
Os cônjuges dos deputados haviam
perdido o direito a bilhetes de passagens aéreas, financiados pela Câmara em
2009, após a revelação de que deputados e senadores usavam os recursos do
Congresso para pagar passagens aéreas para amigos e familiares viajarem pelo
Brasil e ao exterior, caso conhecido como “farra das passagens”. Em vista do
escândalo da época, apenas parlamentares e assessores eram permitidos em
viagens oficiais. O povo já esqueceu. Então, eles voltam a revigorar os citados
benefícios de forma regulamentar.
Os benefícios foram amplos. O
gasto com a verba mensal do gabinete foi reajustado em 18%, passando de R$78
mil para R$92 mil. Serão gastos mais de R$97,3 milhões neste ano e R$129,8
milhões a mais a partir de 2016. A verba mensal de reembolso por gastos
decorrentes do mandato (chamado de “cotão”, cota grande), para passagens
aéreas, publicidade, aluguel de carros, segurança privada, alimentação,
transporte, entre outros, recebeu reajuste de 8,7%, passando anualmente de
R$18,6 milhões para R$20,3 milhões anuais. O auxílio-moradia mensal dos deputados
foi reajustado em 11,9%, passando de R$3,8 mil para R$4,3 mil. Gasto extra de
R$805,5 mil neste ano e R$1 milhão em 2016.
O presidente da Câmara informou
estar apenas repondo a inflação. Não é o que os números indicam. Irá depender
do que ele informa que espera economizar R$50 milhões de horas-extras, sessões
noturnas, adiamento de posses de servidores concursados e despesas de
exercícios anteriores. Outros R$16 milhões serão economizados com redução de
gastos com custeio, manutenção e funcionamento da Câmara. Outros R$47 milhões
com a redução das reposições de materiais permanentes.
O Estado de São Paulo pesquisou
sobre a verba mensal de reembolso. Justamente aquela que não se acumula ao
salário para pagar imposto de renda. Na legislatura passada os reembolsos dos
congressistas representaram R$806 milhões. Ou seja, cada um dos 594
congressistas, 513 deputados e 81 senadores, consumiram R$806 milhões, cerca de
R$1,35 milhão em média parlamentar por mês ou R$963 por dia. A Câmara gastou
R$718,5 milhões com os reembolsos e o Senado R$87,5 milhões. O item da cota
mais usado é o das passagens aéreas. Sem dúvida, será mais usado ainda, visto
que o parlamentar agora poderá voltar a levar o (a) cônjuge.
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