15/08/2014 - PERFIL DO AGRONEGÓCIO


Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura do primeiro governo de Lula, respondendo à entrevista das páginas amarelas da revista Veja, desta semana, traçou um perfil do agronegócio brasileiro. Veja perguntou: “De acordo com diferentes estudos, o agronegócio foi o único setor da economia brasileira que conseguiu obter ganhos expressivos de produtividade nas últimas três décadas. Como isso foi possível?” Rodrigues respondeu: “A agricultura deu saltos fantásticos. Nos últimos 22 anos, a área plantada de grãos avançou 41%, enquanto a produção aumentou 223%. Nenhum país alcançou, nesse mesmo período, algo semelhante. Uma parte dessa história de sucesso se deve à estabilização da economia. No passado, os produtores ganhavam dinheiro aplicando a juros elevados e não plantando. O agrônomo era o gerente do banco. Não havia incentivo para investir em tecnologia. Com a estabilização, quem não dispunha de tecnologia e eficiência em gestão simplesmente morreu. Tivemos também de enfrentar a abertura da economia. Todo mundo vivia sob proteção, e passamos a um cenário de proteção zero. Calculo que 150.000 produtores tenham quebrado entre 1991 e 1995. Quem sobreviveu foi atrás da tecnologia e de aprimorar a administração. A inflação elevada mascarava as ineficiências. Se o criador levava quatro anos para vender um boi, o custo dele simplesmente sumia. Qualquer boi dava lucro”. Veja – “A estabilização, portanto, ampliou os ganhos com o avanço da tecnologia?” Rodrigues - “Certamente. A tecnologia, entretanto, é fundamental. Somos líderes em clima tropical, as esse processo é dinâmico. Não se pode parar. Felizmente a EMBRAPA segue avançando... O Brasil cultiva hoje 76 milhões de hectares. Estamos falando em 9% do território nacional. Com essa área, somos o maior exportador mundial de café, de suco de laranja, de açúcar, do complexo de soja, de carne bovina, de carne de frango, de tabaco. Tudo em 9% do território. O agronegócio representou no ano passado uma fatia de 23% do PIB brasileiro, 30% dos empregos e 41% das exportações, ou 100 bilhões de dólares. Não é nenhum exagero afirmar que as atividades agrícolas têm salvado as contas externas do País. Entre julho de 2013 e junho de 2014, o saldo comercial acumulado do agronegócio foi de 82,4 bilhões de dólares. Somados, os outros setores da economia responderam por um déficit comercial de 79,4 bilhões de dólares”. Veja – “Qual o potencial para aumentar ainda mais a produção brasileira?” Rodrigues -... “A União Europeia, segundo as projeções, pode elevar sua produção em no máximo 4%. Os Estados Unidos e o Canadá podem obter um aumento de no máximo 15%. A região da Oceania não conseguiria um número melhor do que 17%. Países grandes como Índia, China, Rússia e Ucrânia poderiam elevar a produção em até 26%. O Brasil pode atingir 40%”.

A problemática está em traduzir os avanços do agronegócio em maior valor agregado. O Brasil está se reprimarizando. Porém, não aprendeu a lição do passado de cinco séculos de uma economia primário-exportadora. Tampouco, aprendeu os exemplos recentes da Coreia do Sul e da China, exemplos de países que estão fazendo isto com maestria, enfrentando com vigor as forças do imperialismo capitalista.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

DÉFICIT PRIMÁRIO OU SUPERAVIT PRIMÁRIO?

OITAVO FÓRUM FISCAL ÁRABE EM DUBAI

BANCO ITAÚ MELHOR PERFORMANCE