14/08/2014 - ETANOL AMEAÇADO
O primeiro choque do petróleo, no
final de 1973, colocou a nu a extrema dependência brasileira ao petróleo, visto
que a sua matriz energética dependia de cerca de 80% de importações do ouro
negro. O governo militar, chefiado a partir de 1974, pelo general Ernesto
Geisel, ex-presidente da Petrobras, obrigou-se a encontrar alternativas de
redução gradativa dessa dependência. A Petrobras intensificou sua produção na
plataforma marítima, para pouco a pouco ir reduzindo-lhe, até porque a produção
nos mares dependia de novas e mais caras tecnologias. Por outro lado, Geisel
criou o Programa do Álcool (Proálcool), que vinha caminhando lentamente,
mediante desenvolvimento do carro movido a álcool. No final de 1979, eclodiu o
segundo choque do petróleo. O carro brasileiro movido a álcool passou então a
ser o mais vendido em todo território nacional, a partir de 1980. Os Estados
Unidos, em resposta aos árabes, comandaram uma desmedida alta da taxa de juros,
chegando a mais de 20% ao ano, provocando prolongada recessão mundial nos anos
da década de 1980. Dessa forma, os preços do petróleo foram paulatinamente
recuando, o que viriam a tornar o álcool não mais competitivo e o Proálcool
fracassou. Cerca de duas décadas depois, o governo do ex-presidente Lula se
defrontou com uma Petrobras em busca da autossuficiência e reeditou ampla
campanha mundial para a liderança brasileira na produção de álcool. Este passou
também a ser chamado mais de etanol, nome mais conhecido mundialmente. Durante
a era Lula (2003-2010) a economia brasileira cresceu em média 4% ao ano. Porém,
o governo federal, ao combater tenazmente a inflação, tem elevado muito pouco
os preços dos combustíveis, por cerca de uma década.
A entrevista de
Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura de Lula, nas páginas amarelas da
revista Veja desta semana, deixou claro que se está pondo em risco a liderança
brasileira na produção de álcool, além da falta de infraestrutura que limita a
expansão alcooleira. São suas palavras: “Viajamos o mundo para demonstrar as
vantagens ambientais do álcool de cana”. Respondendo a primeira pergunta da
Veja sobre porque o etanol é pouco competitivo, afirmou: “O governo, de alguns
anos para cá, segurou o preço da gasolina como forma de controlar a inflação.
Lá se vão sete anos praticamente sem reajustes. Nesse período, subiram os
custos de produção do etanol, um produto agrícola. Aumentaram as despesas com
mão de obra, com insumos, com a terra, com equipamentos, e assim por diante...
Há sessenta usinas fechadas e mais de trinta em recuperação judicial. O efeito
dominó é brutal e afeta municípios inteiros. Há 70.000 fazendeiros que dependem
das usinas. A indústria de equipamentos também foi sacrificada. Toda a cadeia produtiva
foi duramente afetada”.
Na verdade,
acreditava o governo que a produção petrolífera da camada do pré-sal fosse um
sucesso. Assim, com aumentos de produtividade poderia baratear o petróleo. Porém,
até hoje não é. Pelo contrário, os poços velhos estão se esgotando. A
autossuficiência ainda não chegou. Está o governo em uma encruzilhada, visto
que nem petróleo, nem álcool respondem bem à atual política econômica.
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