09/08/2014 - ACERTOU-SE MAIS DO QUE SE ERROU
Um resumo da política econômica
atual, do professor Ernesto Lozardo, da EAESP-FGV, publicado no jornal Valor
Econômico de ontem, no seu último parágrafo traduz o título do artigo: “Se a
política macroeconômica em algum momento errou, foi em meados de 2012, quando a
recessão mundial se reverteu. Nessa ocasião, poderiam ter sido reduzidos os
estímulos ao consumo e fomentados os investimentos. As reformas fiscais e
previdenciárias são mais fáceis de serem implementadas em ambiente de
previsibilidade do crescimento e da inflação. No entanto, em meio a tantas
incertezas, só o fato de a economia brasileira se encontrar em pleno emprego e
não estar em recessão é prova de que a política econômica mais acertou do que
errou”. Sua colocação se baseia em seis fatos (colocados do texto, de acordo
com o objetivo desta coluna): 1) “A média do desemprego da Europa equivale a
duas vezes e meia a do Brasil, e a dos EUA, a uma vez e meia a do nosso País”;
2) “nessas nações, a pobreza continua expandindo-se, ao passo que, no Brasil,
está reduzindo-se com o aumento real de renda por habitante”; 3) “a dívida
líquida do setor público representou 60% do PIB em 2003 e retraiu-se para 34%
do PIB em 2013”; 4) “nesse período, a dívida bruta reduziu-se de 64% para 57%
do PIB”; 5) “em 2002, as reservas internacionais somavam US$17 bilhões; em 2013
chegaram a US$375 bilhões”; 6 “a taxa de inflação, desde 2005, continua
variando dentro dos limites da meta inflacionária, de 4,5% ao ano, cujo teto é
6,5%”.
Há concordância, em parte, com o
modelo simplificado de análise do autor. Porém, não há pleno emprego, mas
desemprego baixo. Além do mais os indicadores econômicos vem se deteriorando
progressivamente. A saber: 1) a indústria está encolhendo há quatro meses; 2) a
balança comercial tem déficit neste ano; 3) a inflação está acima do teto de
6,5%; 4) o balanço de conta corrente está em 4% do PIB; 5) o superávit tem
caído, tendo sido de 4,25% do PIB em 2003, para 1,5% atual; 6) o déficit
nominal subiu; 7) a indústria automobilística, que representa 25% da indústria
manufatureira, no semestre se retraiu 20% e espera a ANFAVEA ter 10% de recuo
neste ano; 8) o cenário projetado para 2015 é de enorme incerteza; 9) os
prejuízos com o uso de termelétricas já ultrapassa R$17 bilhões neste ano e
terão que ser repassados em curto prazo aos consumidores; 10) os últimos
reajustes de combustíveis foram em novembro de 2013, sendo iminentes seus
reajustes; 11) o crédito está mais caro e seletivo; 12) a inflação alta está
correndo parcela significativa da renda; 13) a moratória argentina está
afetando as exportações brasileiras para lá, que já recuaram 35%.
Em resumo, o desemprego baixo,
por volta de 5%, está sendo represado por férias coletivas, programas de
suspensão temporária de contratos e empresas segurando mão de obra qualificada,
devido a sua relativa escassez. Enfim, o caldo entornará ainda mais se o País
ingressar em recessão. Aliás, era para ser divulgado desde o dia 29 passado o
indicador do segundo trimestre, quando a análise deverá ser mais precisa.
Ademais, o modelo monetário ortodoxo adotado desde 1994, hoje em dia apresenta
os juros básicos da economia altos o suficiente para inibir a atividade econômica
e baixos o suficiente para não trazer a inflação para o centro da meta de 4,5%.
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