29/09/2018 - RECEIO DA RECESSÃO




O que vem sinalizando o mercado com respeito às eleições? Que não quer um presidente que não faça as reformas estruturais, fundamentais para o retorno do crescimento; que não quer um presidente que eleve os gastos do governo e aumente mais ainda tributos; que não quer um presidente que não melhore o ambiente dos negócios. Assim, parece que o mercado sinaliza favoravelmente para Geraldo Alckmin, João Amoedo, Henrique Meirelles, Álvaro Dias e Jair Bolsonaro. Entretanto, Lula, em 2002, era amplamente rejeitado, mas fez o compromisso pela Carta aos Brasileiros e foi eleito presidente. Ele foi ortodoxo no seu primeiro mandato e colocou a economia nos eixos. Depois se tornou heterodoxo, no segundo mandato. Dilma foi mais ainda e deu no que deu: forte recessão.

Em artigo da Folha, de hoje, Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, empresa de consultoria, responde a questão da Folha: “É grande o risco de recessão já em 2019?” Ele responde sim. Inicia a sua argumentação: “Recessões são eventos econômicos relativamente comuns. O Brasil passou 35% dos trimestres desde 1981 com recessão. Pode parecer algo elevado, mas os Estados Unidos passaram por recessão em 34% do tempo também desde 1981. A diferença é a quantidade de recessões. Enquanto os Estados Unidos tiveram quatro delas, nós tivemos nove. Ou seja, em média tivemos uma recessão a cada quatro anos no Brasil. Não saberia dizer se seria um recorde, mas, certamente é uma referência preocupante. Essas recessões foram geradas por um conjunto de eventos domésticos e externos, sendo a maioria das causas como de se esperar, domésticas. As origens domésticas são variadas, mas nos remetem a algum grau elevado de má condução da política econômica. O caso mais recente veio do governo Dilma, cuja conjunção de inabilidade política com esgarçamento das políticas fiscal e monetária levou à maior recessão da nossa história. Estamos saindo da última crise e novamente nos deparamos com a questão se há possibilidade de nova recessão no próximo mandato presidencial. Infelizmente a resposta parece sim. A eleição parece que ficará com dois candidatos com visões extremistas. De um lado difícil crer que Haddad vai conseguir domar sua tropa de keynesianos ávidos para desmontar novo regime fiscal iniciado em 2016. A simples não realização das reformas necessárias, a destacar a da Previdência, mostrará aos investidores que o governo não quer o reajuste fiscal mesmo tendo uma dívida próxima de 80% do PIB e crescente. Não será facilmente manter e aperfeiçoar o regime fiscal criado se não houver crença dentro do próprio partido do presidente de que isso é necessário... De outro lado, o ultraliberalismo de Paulo Guedes parece não casar com o seu chefe. Pelas idas e vindas da equipe econômica de Bolsonaro poderemos perder tempo enquanto se tenta a enésima versão de uma reforma da Previdência que terá dificuldade passar pela parca composição política do possível presidente... Nos dois casos, uma falta do controle dos gastos da Previdência pode força a um ajuste mais severo na arrecadação”.

Em resumo, o mercado só acredita em sair da estagnação se o novo governo realizar a pelo menos a reforma da Previdência, procurando resolver a largo prazo a questão do déficit primário já há cinco anos.

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