20/08/2019 - FORTE RETROCESSO EM CINCO ANOS




A camada da população chamada de miseráveis caiu de 34%, em 1994, após advento do Plano Real, quando a economia brasileira estabilizou o processo inflacionário, promovendo programas sociais de distribuição de renda, inclusive a forte recuperação do salário mínimo real, para 8% em 2014. Em 1998, o Brasil conseguiu a façanha de superávit primário, por 16 anos, quando em 2014, retornou ao déficit primário. De lá para cá, então houve forte retrocesso na distribuição de renda, na medida em que o PIB caiu fortemente, mais de 7%, a renda per capita, mais do que ele, por volta de 10%. Já há algum tempo que a literatura técnica tem revelado que, após 1994, até 2014, 21 anos, “os pobres ficaram menos pobres e os ricos mais ricos”, na interpretação do jornal londrino The Economist, além da classe média ter crescido menos do que os demais grupos. Após 2014, com o desemprego passando da casa de 6% e ultrapassando 13% (retornou atualmente a casa de 12%), a desigualdade na distribuição de renda no Brasil está como a segunda pior do mundo, só perdendo para o Katar. Cálculos dos estudos publicados hoje pela Folha.

O Relatório de Desigualdade no Mundo, produzido pelo grupo Folha, analisou a distribuição de renda no Brasil de 1980 a 2016. As principais conclusões foram de que os super ricos, aqueles que ganham mais de R$140 mil, elevaram seus patrimônio em 235% no período em tela; os mais pobres, em 94%; os mais ricos, em 70%; a classe média, em 40%, respectivamente. Em resumo, cerca de 40 anos de prosperidade, interrompidos fortemente desde 2014 e sem hora de o progresso retornar.

Marcelo Nery, doutor em economia pela Universidade de Princeton e um dos mais famosos especialistas no estudo da distribuição de renda brasileira, assim se refere em entrevista à Folha de hoje: “O Brasil vinha em processo de crescimento inclusivo até 2014. Daí para frente vivemos outro lado da moeda. Os rendimentos caíram e a desigualdade na distribuição de renda do trabalho aumentou por mais de quatro anos consecutivos, algo que não aconteceu nem em 1989, nosso recorde de desigualdade. Com isso, a economia desaqueceu ainda mais, pois os pobres tendem a consumir boa parte de sua renda. A pobreza também aumentou muito. Ela tinha caído de 1990 a 2014, cerca de 75%. Agora, só a extrema pobreza subiu 40%. Uma combinação de queda da renda, desemprego e aumento da desigualdade gerou a reversão. Não estamos voltando ao mesmo nível de pobreza que tínhamos antes dela cair, felizmente. Mas, a projeção é que, se não reduzirmos a desigualdade, mesmo crescendo 2,5% ao ano até 2030, nós vamos voltar aonde estávamos em 2014”.  

O que os brasileiros esperam é que o País volte a crescer mais e 3% ao ano. Isso foi até se referido em campanha pelo atual governo. Mas, está difícil, pelas dificuldades de aprovar as reformas estruturais de forma democrática. Lembre-se que isso só ocorreu na ditadura militar, de 1964 a 1984. Mas, não é isso que se quer.

Uma coincidência intertemporal interessante: a ditadura militar demorou 21 anos; o grande progresso dos últimos tempos aconteceu de 1994 a 2014: 21 anos.

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