14/07/2018 - O CASO DA INDÚSTRIA CHADLER
Transcreve-se
aqui, depoimento sobre a indústria baiana Chadler, conforme publicado, no
jornal Estado de São Paulo, de 14-10-1997, 21 anos passados.
“A história que vou contar é forte e verdadeira. Trata-se de
uma empresa de Salvador, que embarcou todas as máquinas em um navio cargueiro e
se mudou para New Jersey, EUA. O empresário se cansou de tantos impostos e dos
juros escorchantes praticados no Brasil. O empresário ainda possui uma unidade
fabril semelhante em Ilhéus. Com isso, ele adquiriu uma rara condição de fazer
comparações precisas entre negócios iguais em países diferentes. Tanto a
empresa que se foi como a que ficou produzem manteiga de cacau. Como era a de
Salvador, a fábrica de Ilhéus continua pagando mensalmente o PIS, COFINS, IPI,
IOF, CPMF, INSS, INCRA, SEBRAE, SESI, SENAI, FGTS, ICMS, IPTU, IPV, imposto de
renda, contribuições sobre o lucro, salário-educação, seguro-acidente, imposto
de importação, guia de importação, contribuição sindical e vários outros. A de
New Jersey paga apenas a previdência social, seguro-médico, seguro-desemprego
IPTU e, uma vez por ano, imposto de renda sobre dividendos. Devido a essa
simplicidade tributária, as suas despesas com administração são de apenas 25%
da fábrica de Ilhéus. Com poucos impostos, o risco de multa, conflitos
judiciais é muito mais baixo do que em Ilhéus, o que também representa
economia. Nas duas fábricas, a matéria prima é o cacau. Inacreditável, lá o
cacau é 3% mais barato do que aqui. A empresa tem que manter estoques para 4
meses. Em New Jersey, 4 dias, pois as entregas são pontuais e o custo
financeiro de estocagem é claro, é muito menor. O preço das peças de reposição
para as máquinas e equipamentos das duas fábricas é 30% mais em conta em New
Jersey. Embalagem e eletricidade custam 1% menos do que no Brasil. No primeiro
ano de trabalho, a fábrica de New Jersey sofreu um incêndio. Em cinco minutos o
fogo foi apagado pelos bombeiros municipais. Lá, não há necessidade de cada
empresa ter uma brigada de incêndio, como no Brasil. Mais uma economia. No
campo do trabalho as diferenças são monumentais. Os funcionários vêem de carro
para o trabalho. Não há despesas com vale-transporte. Eles trazem seu lanche de
casa, o que dispensa o ticket-refeição e cesta básica. A maioria possui
convênio médico, o que economiza a contratação de plano de saúde em grupo. No
dia em que chegou em New Jersey, o empresário recebeu representante de um banco
local que lhe ofereceu empréstimos para investimentos na base de 7,5% ao ano
(em Ilhéus 21%). Ele modernizou a fábrica e a produtividade disparou. Hoje para
a mesma produção, o quadro de pessoal em Ilhéus é de 150 operários; o de New Jersey,
55. Atentem agora para as diferenças salariais. Na fábrica de Ilhéus o salário
médio é de R$650,00 mensais que, com encargos sociais compulsórios e negociados
da ordem de 111%, passa para R$1.373,45, ou seja, cerca de U$1,280.00 (da
época) que os operários baianos custam para a empresa, eles levam para casa
apenas US$927.00. Dos US$2,182.00, os operários de New Jersey levam para casa
US$1,989.00. Para a empresa o trabalhador americano custa 70% a mais para as
famílias, ele leva 111% a mais do que o brasileiro. Vejam agora este contraste.
Os 55 empregados de New Jersey geram uma folha mensal de US$120,000.00. Os 150
de Ilhéus, US$192,000.00. Em outras palavras, em relação ao brasileiro, o
trabalhador americano ganha mais, leva mais do dobro para casa e, no agregado,
custa 60% menos para a empresa. Eu não estou inventando. Essa é a história real
da Chadler Indústria e Comércio. A unidade de Salvador foi embora e migrou para
um país de salários altíssimos. E está compensando. Você já imaginou se ele
tivesse mudado para a China, Coréia, Indonésia, Índia ou Filipinas, onde os
salários e os encargos sociais são infinitamente mais baixos do que os do
Brasil? O mais triste é que no dia da mudança não houve protestos, greves ou
piquetes. As máquinas foram desmontadas e embarcadas num navio fretado, e a
empresa se foi, ‘tranquilamente’, deixando para trás a destruição de 150 postos
de trabalho diretos uns 500 indiretos. A mudança não chamou a atenção de
ninguém, nem das autoridades. Até parece que, por aqui, há empregos sobrando. O
dono da empresa me disse ter esperança de voltar. Quanto tempo os brasileiros
terão de esperar para reconquistar os empregos que se foram? Um ano? Dois? O
próximo milênio? Espero que isso ocorra antes de outras transferências de
fábricas. O que faremos nós aqui com os desempregados, os impostos, a CLT e os
sindicatos se as empresas se forem”. Publicado em O Estado de São Paulo,
14/10/1997. Não se sabe aqui o nome do depoente.
Não foi considerado aqui os órgãos de fiscalização, que
cobram taxas para tal mister, quando não obrigam as empresas a se
informatizarem com equipamentos servindo ao fisco, federal, estadual e
municipal (as famosas SEFAZs). Destacam-se, ainda, agências reguladoras, INMETRO,
IBAMETRO, Vigilância Sanitária, IBAMA, PROCON, defensores de direito autorais
de músicas (ECAD), dentre outros.
Por oportuno, na Folha de São Paulo de hoje, no caderno
Mercado, tem-se a comprovação disso: “Inmetro quer aumentar fiscalizações e
quintuplicar faturamento como agência”.
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