27/12/2018 - DE VOLTA AOS TRILHOS
Final de mais um governo presidencial e os balanços
continuam. Em dois anos e meio de Michel Temer há aqueles que dizem que ele fez
um bom governo, tal como fez ontem, Antônio Delfim Netto, economista de 87 anos,
figura lendária da administração pública, em sua coluna quinzenal na Folha de
São Paulo. O título é “Temer missão cumprida”. De início, ele colocou muito bem
a história recente: “Quando os tempos se acalmarem, pesquisadores honestos
concentrarão suas teses de doutoramento nos incríveis 14 anos de governo do PT.
Sob Lula, registrou-se o único surto de crescimento dos últimos 20 anos.
Ajudado por uma extraordinária melhoria das ‘relações de troca’, soube aproveitá-la
para melhorar a distribuição de renda. Tudo foi destruído pela ação
voluntarista de Dilma, que produziu uma dramática recessão. Entre 2012 e 2016,
o PIB per capita caiu 7%, a produção industrial voltou ao nível de 2003 e os
PACs deixaram mais de 7000 obras inacabadas. A tragédia fiscal foi escondida
pela destruição dos registros contábeis que levaram ao impeachment. Essa foi a
herança de Temer. Ele soube organizar uma espécie de ‘parlamentarismo de
ocasião’ e cercar-se do que há de mais competente na administração pública do
País. Não tenho a menor dúvida. Quando Temer sofrer o mesmo julgamento, ele
será classificado como um presidente inovador e reformista: a densidade de
medidas corretivas dos desvios da boa administração econômica por unidade de
tempo foi maior desde a Constituição de 1988!” O colunista exagera. Temer
começou muito bem. Fez algumas reformas e desabou (não fez mais nenhuma),
quando fora denunciado por corrupção pelo Joesley Batista (início de 2017), a
quem recebem na calada da noite, no Palácio do Jaburu, admitido malfeitos e
dizendo “tem que manter isso viu”, gravado, a propina que Batista pagava a
Eduardo Cunha para manter-se calado, como até hoje está. Delfim também esqueceu
a maior reforma já realizada no País, a reforma monetária de Itamar Franco com
o Plano Real.
Para Ronaldo Fonseca, em entrevista ao Correio da Bahia, de
hoje, no Planalto: “O presidente salvou o Brasil de um desastre e fez com que a
locomotiva pudesse chegar em segurança até a estação e ser comandada agora por
um novo maquinista. Este não é um governo de quatro anos. Houve uma interrupção
e o mandato do presidente Temer é de dois anos e meio. O brasileiro está
acostumado a analisar um período de quatro anos. Faltou tempo hábil. Quando se
pega um governo numa situação de desastre como o presidente pegou, a primeira
coisa se fazer é o dever de casa. Isso leva um certo tempo”.
Nem tanto, nem tão pouco. A gestão econômica de Temer não
deve ser considerada como boa ou ruim, nem regular, e sim, sofrível. Sim, ele
sofreu desde março de 2017, pelos erros de corrupção, cujos seis processos irá
responder depois de sair do governo. Ele acertou bem no primeiro ano. No ano e
meio seguinte tem sido sofrível. Sim, o Brasil está “de volta aos trilhos”, mas
segue lentamente.
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