10/12/2014 - TOMA LÁ, DÁ CÁ
O governo é obrigado a enviar ao
Congresso o anteprojeto de Lei das Diretrizes Orçamentárias (LDO), até 31 de
agosto, referente ao orçamento do ano seguinte. A LDO do ano passado estipulava
a poupança governamental de R$116 bilhões, visando pagar os rendimentos da
dívida pública, prometidos a dezenas de milhões de investidores nacionais e
estrangeiros. Porém, o governo não o fez. O último cálculo das finanças
públicas é de um superávit de R$10 bilhões. Os juros sobrantes vão ser rolados
em mais dívida pública. No entanto, para fechar as contas nacionais, pretende
considerar as desonerações de todo o ano sobre segmentos produtivos escolhidos,
mais os gastos do Programa de Aceleração do Crescimento, no total de R$160
bilhões. Ora, isso não foi poupança. Mas, artifício que desqualifica a boa
gestão internacionalmente, burlando a lei de responsabilidade fiscal. Paira no
ar a ameaça de rebaixar o grau de investimento brasileiro. Dessa maneira, o
governo enviou um decreto ao Congresso, para que seja aprovada lei específica
de autorização de mudança na LDO do ano em curso. Na semana passada, houve ofensas
da plateia que protestava com parlamentares, a segurança parlamentar, para
dispersar o público usou de violência, até com uma senhora de 79 anos. Não
parecia que o decreto fosse aprovado. Porém, o governo fez publicar outro
decreto, prometendo liberar R$444,7 milhões, em emendas de parlamentares no
orçamento. São 513 deputados federais e 81 senadores, cabendo a cada um R$748
mil. Diante disso, depois de quase dezenove horas de sessão, perto das 5 horas
da madrugada do dia 4 passado, o referido primeiro decreto foi aprovado. As
emendas que fazem os parlamentares ao orçamento dizem respeito a direcionar
dinheiro público para obras nas suas regiões, visando agradar seu eleitorado. Aconteceu
o “toma lá, dá cá”. O senador Pedro Simon, do PMDB, digno parlamentar
reconhecido, afirmou: “Em 42 anos de vida pública, nunca tinha visto uma
desfaçatez tão grande”. O senador Aécio Neves, do PSDB, acusou o governo de
deixar o Congresso “de cócoras”. Provavelmente a lei deverá ser editada até o
dia 22 deste e sancionada pela presidente da República.
Fato como este acima demonstra o
quanto ainda a democracia brasileira necessita de aperfeiçoamento. Por outro
lado, tal procedimento somente faz com que os investidores se retraiam em seus
projetos, bem como a comunidade internacional também recue em suas inversões.
Perde o País. Perde ainda mais, quando o relator da LDO do ano que vem, Vital
do Rêgo, do PMDB, reduziu a poupança do governo do ano que vem de R$86 bilhões
para R$55 bilhões, bem como diminuiu também o crescimento previsto do PIB de
3%, do anteprojeto em análise, para 0,8% em 2015. O cenário ficou triste, haja
vista que a expectativa do relator, em sintonia com o governo, da sua base
aliada, ficou pessimista. Ademais, na maioria dos anos, o anteprojeto é
otimista. Na prática, quando a taxa do PIB é divulgada, nos últimos anos, tem
sido bem menor do que a prevista.
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