DOUTOR APOCALIPSE

 

A crise financeira de 2008 arrastou o mundo para uma severa recessão. Naquela época, poucos viam a origem no mercado imobiliário ou no mercado das hipotecas, a partir dos Estados Unidos, visto que lá um cidadão poderia ter mais de um imóvel financiado e muitos o tinham. Quando as pessoas físicas passaram a não pagar os bens hipotecados, justamente por falta de capacidade de pagamento, a crise arrastou financeiras, imobiliárias e grandes bancos. O centenário banco, o Lehman Brothers faliu. Em seguida vieram as empresas da esfera produtiva, atingindo principalmente as indústrias automobilísticas. A irradiação do ciclo recessivo passou para o conjunto da economia americana e se propagou pelo mundo. A solução encontrada foi a do governo dos Estados Unidos injetarem muito dinheiro nas suas multinacionais, mais de uma vez, para salvá-las da catástrofe. No Brasil, a crise financeira chegou depois de setembro de 2008 e levou a uma pequena recessão em 2009. Os economistas da época disseram que o Brasil foi o último a entrar e o primeiro a sair do ciclo recessivo. A economia vinha em bom perfil de crescimento do PIB e logo em 2010 obteve o crescimento econômico de 7,5%.

Qual a semelhança com a crise que ora se delineia pelo mundo? A origem é outra, não é da economia doméstica americana. Deve-se à grande elevação dos preços das commodities, em especial, do barril de petróleo, além dos alimentos em geral. Além disso, desde fevereiro, começou a guerra entre Rússia e Ucrânia, sem hora marcada para acabar. Repetiu-se pelo mundo, de forma similar, a grande inflação, em grande número de países, fato que não ocorria há quatro décadas.

A solução ortodoxa, de elevação da taxa básica de juros, passou a ser seguida pelos bancos centrais pelo mundo afora. O Brasil foi daqueles que começou antes e já conseguiu reduzir bastante a inflação, muito embora esteja longe do centro da meta inflacionária, definida pelo Conselho Monetário Nacional. É esperado para este ano por aqui, um crescimento por volta de 3% do PIB. Na economia global muitos países poderão ingressar em forte recessão.

Tal previsão voltou a ser feita pelo economista Nouriel Roubini, que foi um dos primeiros a antever o processo recessivo de 2008. Ele anteviu o estouro da “bolha imobiliária”. Na época, ele foi chamado de “doutor apocalipse” (doctor doom, em inglês). Em declarações ao site Bloomberg, ele afirmou: “Muitas instituições zumbis, famílias zumbis, corporações zumbis, bancos, bancos paralelos e países zumbis vão morrer”. Realmente, declaração excessiva, que levaria à morte até de países. Para a bolsa de Nova York, ele prevê uma queda de até 40% do índice S & P 500, que é o parâmetro das ações negociadas na maior bolsa de valores do mundo e que pode propagar-se pelo ano de 2023. A sua previsão ainda da taxa básica de juros, para os títulos públicos, é de uma elevação, pelo Federal Reserve, de 0,75% nesta semana, e mais duas elevações de 0,50% em novembro e dezembro.

No Brasil, parece que se esgotou o ciclo de alta da taxa SELIC e a economia poderia melhor ser retomada. Entretanto, para a sua continuidade nos próximos anos, é preciso que o programa econômico do governo, que sairá da vitória nas urnas em outubro, conquiste os investidores de uma maneira em geral.  

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